O Parkinson é um dos distúrbios neurológicos que mais cresce em todo mundo e, segundo estimativas, pode chegar a 17 milhões de casos no Brasil até 2040. As estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam também 36 mil novos diagnósticos positivos por ano. ¹
Apesar de não ter cura, fazer um diagnóstico preciso (que pode demorar até um ano) é fundamental para garantir a qualidade de vida de quem convive com a doença. E foi isso que inspirou o pesquisador Fábio Henrique Monteiro Oliveira no doutorado em Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Ingressante em um programa de pesquisa que já estudava a Doença de Parkinson há mais de 20 anos, ele pôde conjugar seus conhecimentos em sistemas da informação e computação, áreas que havia estudado na graduação e no mestrado, para desenvolver uma tecnologia que ajudasse na identificação da doença.
“A interface homem-máquina sempre me atraiu. Poder interagir com a máquina sem usar teclado e mouse é fascinante. E a computação é uma área transversal, ou seja, ela pode ser aplicada em qualquer segmento com grandes benefícios”, explica o professor de Computação do Instituto Federal de Brasília.
Logo que começou seus estudos, Fábio conviveu com parkinsonianos e aprendeu que o diagnóstico da doença é bastante difícil. “Uma das formas de definir e tratar o Parkinson é pela análise do movimento. Tremores das mãos, dos pés e da cabeça são sinais típicos da doença. Entretanto, eles também surgem em outras enfermidades, o que pode confundir e dificultar o diagnóstico.”
Com base nisso, o pesquisador dedicou seus estudos a criar uma tecnologia que detectasse e quantificasse o movimento das mãos desses pacientes. “A ideia era capturar e avaliar os tremores com sensores de câmera, sem tocar nas pessoas.”
Depois de muito investigar, Fábio criou um sistema, composto por hardware e software, capaz de ler e traduzir os sutis movimentos das mãos dos pacientes. “Construí uma caixa, cujo tamanho era um pouco maior do que o de uma mão, na qual instalei sensores que leem os tremores e mandam esses dados para o software. O programa identifica a frequência e a velocidade do tremor e o tempo que a pessoa leva para começar o movimento de novo. Com isso, é possível dizer se os tremores são mais parecidos com os característicos do Parkinson ou não”, explica Fábio.
Um dos vencedores de 2021 do Prêmio SBEB-Boston Scientific para Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS, o professor ressalta a importância da abordagem multidisciplinar para apoiar iniciativas voltadas à saúde. “É isso que a Engenharia Biomédica permite: um diálogo multissetorial, que beneficia a sociedade.” Atualmente, há um protótipo do sistema criado por Fábio na Universidade Federal de Uberlândia, mas o pesquisador ainda trabalha em uma versão com melhorias, torcendo para que conquiste a certificação da Anvisa e chegue de fato a quem precisa.
Os algoritmos, as equações e as últimas novidades em tecnologia dominam o dia a dia de Fábio, mas ele equilibra sua rotina com doses extras de natureza. Fazer viagens off-road sempre que consegue alguns dias de descanso, fugir para trilhas para pedalar e nadar estão entre suas atividades preferidas. É nesses momentos que recarrega a energia para voltar à universidade. “Para mim, estudar é expandir a mente e os horizontes de possibilidades.”
1 SANTOS, Giovanni F.; NUNES E SILVA, Guilherme de Q. et al. Doença de Parkinson: Padrão epidemiológico de internações no Brasil. Publicado em 3 jan. 2022. In: Research, Society and Development, v. 11, n. 1, e13511124535, 2022 (CC BY 4.0). DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i1.24535.
Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/24535/21927/293934. Acesso em: 4 jul. 2022.